Brasil

Apesar de evitáveis, mortes maternas por hipertensão persistem no Brasil

A hipertensão continua sendo uma das principais causas de morte materna no Brasil, mesmo sendo uma condição amplamente conhecida, diagnosticável e tratável. Segundo dados do Ministério da Saúde, complicações hipertensivas como pré-eclâmpsia e eclâmpsia ainda respondem por cerca de 20% das mortes maternas no país, muitas das quais poderiam ser evitadas com um acompanhamento adequado durante o pré-natal.

Especialistas apontam que o problema vai além da medicina: é também social e estrutural. A falta de acesso a um pré-natal de qualidade, especialmente em regiões mais vulneráveis, dificulta a identificação precoce dos riscos. Muitas gestantes chegam ao atendimento já em situação crítica, sem terem recebido orientações básicas sobre os sinais de alerta ou sem terem realizado exames essenciais.

“Temos uma atenção primária que ainda falha em detectar precocemente os quadros hipertensivos, especialmente em mulheres negras e indígenas, que estão entre as mais afetadas”, afirma a obstetra e pesquisadora Ana Paula Mendes, do Instituto Fernandes Figueira (Fiocruz). “É um problema de saúde pública, mas também de equidade.”

A pré-eclâmpsia, caracterizada por pressão arterial elevada e presença de proteínas na urina, pode evoluir rapidamente e causar convulsões, falência de órgãos e morte da mãe e do bebê. Apesar da gravidade, quando diagnosticada a tempo, há formas eficazes de controle, como o uso de medicamentos anti-hipertensivos e o monitoramento da gestação.

Em 2022, o Brasil registrou cerca de 1.300 mortes maternas, número que ainda está distante da meta da Organização Mundial da Saúde (OMS), que preconiza um máximo de 70 óbitos por 100 mil nascidos vivos até 2030. A hipertensão, ao lado das hemorragias e infecções, figura entre as causas mais frequentes e evitáveis.

Para mudar esse cenário, especialistas defendem investimentos em capacitação de profissionais, melhoria da estrutura das unidades de saúde e campanhas de conscientização voltadas para gestantes e suas famílias. Além disso, o fortalecimento das redes de atenção à saúde da mulher é considerado essencial para que nenhuma morte materna por hipertensão continue sendo tratada como inevitável.

“Cada vida perdida é um alerta de que falhamos em algum ponto do cuidado”, resume Ana Paula. “É preciso agir antes que o problema apareça.”

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